sábado, 11 de junho de 2016

Aquarela

"Um menino caminha e caminhando chega no muro / E ali logo em frente, a esperar pela gente, o futuro está / E o futuro é uma astronave que tentamos pilotar / Não tem tempo nem piedade, nem tem hora de chegar / Sem pedir licença muda nossa vida, depois convida a rir ou chorar..."

(Aquarela - Toquinho e Maurizio Fabrizio)






           "Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo. E com cinco ou seis retas é fácil fazer um castelo. Corro o lápis em torno da mão e me dou  uma luva. E se faço chover, com dois riscos tenho um guarda-chuva". Tal canção - composta por Toquinho e Maurizio Fabrizio - faz com que retornemos ao mundo infantil.  É poca na qual, ainda que tivéssemos poucos recursos, poderíamos, caso desejássemos, conquistar o mundo.
           Quando éramos criança, nenhum problema era grande o suficiente para tirar a paz do nosso cotidiano. Vivíamos em uma eterna aquarela. Para cada empecilho, não raro, conseguíamos articular uma infinidade de possíveis soluções. Tal façanha era possível, visto que, simplesmente, não aceitávamos a possibilidade de existirmos em um dia sem cores. Em contrapartida, quando nos tornamos adultos, sem perceber, guardamos, em algum lugar do peito, aqueles lápis imaginários que davam cor ao nosso dia a dia. Isso porque, erroneamente, fixamos o olhar nas cores do futuro e esquecemos que, se não pintarmos o dia de hoje com cores vivas, não teremos o amanhã desejado.
            Dessa forma, infelizmente, vamos aceitando a mentira de que os nosso dias não precisam de tons de harmonia e felicidade. Tal comportamento se dá porque resolvemos, por exemplo, trocar as cores do nosso cotidiano por ótimos resultados na vida profissional. Dessa maneira, acabamos por não perceber que ganhamos dinheiro, mas perdemos vida. Claro que dinheiro é importante. Entretanto, ele não deve ter um peso maior do que o aprendizado gerado pelas experiências cotidianas. Caso contrário, a felicidade, por exemplo, tornar-se-á cada vez mais distante. Oportunamente, podemos relacionar a nossa frequente falta de percepção com algum dos versos de Mario Quintana: "Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda parte, os óculos procura, tendo-os na ponta do nariz".
           Em vista disso, faz-se necessária a busca pelos nossos velhos lápis de cor. Isso para que possamos colorir até os dias mais cinzas. Além disso, é imprescindível que venhamos a assimilar o entendimento de que as preocupações excessivas não servem para nada. Tal ensinamento está presente no trecho final de Aquarela: "Nessa estrada, não nos cabe conhecer ou ver o que virá. O fim dela ninguém sabe bem ao certo onde vai dar. Vamos todos numa linda passarela, de uma aquarela que um dia, enfim, descolorirá".



Imagem: Tilen Ti





Publicado:

Diário de Santa Maria, RS - 2015




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