terça-feira, 24 de setembro de 2019

Setembro Amarelo: falar é a melhor solução


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          Falar sobre suicídio não estimula um indivíduo a desistir da vida. Pelo contrário, ao falarmos sobre suicídio, damos ao indivíduo angustiado uma oportunidade para que fale a respeito daquilo que lhe está causando dor e sofrimento. Ao evitarmos falar sobre suicídio, deixamos de estender a mão a alguém que sofre. Ainda que não sejamos um (a) psicólogo (a) nem um (a) psiquiatra, por meio da empatia, podemos perceber, quando uma pessoa está sendo acometida por um sentimento de angustia/ansiedade/tristeza. Após prestarmos o acolhimento inicial, precisamos incentivá-lo (la) a procurar por ajuda profissional.
          O suicídio e a tentativa de consumar o ato são questões de saúde pública. Além do esforço do Poder Público, faz-se necessário que a sociedade também faça a parte dela. É imprescindível que a sociedade busque informações a respeito das tentativas de suicídio e dos atos consumados. Ao buscar informação, a sociedade melhor saberá acolher ao indivíduo que pensa em desistir da vida. Além disso, saberá, por exemplo, como identificar os sinais de alerta e como proceder diante desses sinais. A maioria das pessoas, que pensam em suicídio, não querem desistir da vida, querem se afastar da angústia e do sofrimento. Segundo a psiquiatra Fabiana Nery, o suicídio é um sintoma de uma doença base e, assim sendo, ao tratar a causa primária desse sofrimento, o indivíduo se afasta do desejo de desistir da vida.
           O pacto de silêncio não auxilia, em nada, quando o assunto é a prevenção do suicídio. Além de orientar ao indivíduo – que passa por uma fase de angustia e sofrimento – a procurar ajuda profissional, precisamos também, por meio da informação, trabalhar pelo fim do preconceito em relação aos indivíduos que sofrem em função de um transtorno mental. O indivíduo angustiado não precisa de julgamento, mas, sim, de acolhimento e respeito. Tal acolhimento pode ter início por meio de um olhar atencioso e empático ou por meio de uma mensagem de ânimo e de otimismo, por exemplo. Como podemos perceber, existem várias formas de colaborar para que um ser humano não vá embora antes da hora.
          Que possamos – não somente no mês de setembro, mas também durante o ano inteiro – refletir a respeito das ações pelas quais poderemos melhor acolher ao sofrimento do próximo. Ressalto aqui o trabalho diário e gratuito, exercido pelo Centro de Valorização da Vida (CVV-188), apoiando e acolhendo aos indivíduos que lutam, de forma aguerrida, pela vida. Ressalto também o empenho e a dedicação dos (das) terapeutas, dos (das) psicólogos (as) e dos (das) psiquiatras na luta pela proteção da vida. Por fim, direciono-me, em especial, aos leitores que estão passando por uma fase difícil na vida: peço que não desistam, peço que procurem por ajuda. Podem ligar gratuitamente para o CVV, discando 188. Assim como podem também procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima para que seja feito o encaminhamento ao serviço de saúde especializado.


segunda-feira, 29 de julho de 2019

Relações tóxicas: o caminho da recuperação

"Vai chover, vai secar, serão águas passadas..."
(Engenheiros do Hawaii)

          Dedico o presente artigo a todos que, de alguma forma, sofreram nas mãos de um (a) parceiro (a) tóxico (a). Tais pessoas – empáticas e valorosas – são dignas de menção, porque, não raro, enfrentam batalhas internas e externas, percorrendo um caminho nada fácil para dentro de si mesmas. Empreendem tal caminhada, buscando não somente os bons valores invalidados pelo (a) parceiro (a) destrutivo (a), mas também buscando o reencontro e a reconciliação com seu próprio eu interior.
            A vítima, quando decide abandonar o (a) abusador (a), torna-se um (a) sobrevivente de um relacionamento doentio. Segundo Sam Veknin, terapeuta e autor do livro Autoamor maligno: narcisismo revisitado, a mais sábia atitude a ser tomada, após o término de um relacionamento abusivo, reside no estabelecimento do contato zero com o (a) manipulador (a). Isso porque o contato zero interrompe, quase que imediatamente, o avanço das manipulações e do abuso, impostos, anteriormente, pela criatura manipuladora. Ressalto que o contato zero do (a) sobrevivente não tem relação com o tratamento de silêncio, imposto pelo (a) abusador (a). Contato zero – ou contato mínimo com o (a) abusador (a), quando há filho (a) (s) – representa um ato emergencial de defesa, enquanto o tratamento de silêncio representa um recurso para promover a violência psicológica.
         À medida que se afasta do manipulador (a), o (a) sobrevivente passa a perceber e a compreender os efeitos tóxicos do gaslighting (dissonância cognitiva), da triangulação (comparação/traição) e do tratamento de silêncio, por exemplo. Na fase de recuperação, é preciso ter muito cuidado com a manobra de manipulação – muito usada pelos (as) narcisistas e pelos (as) sociopatas – chamada hoovering. Esse termo faz referência, não por acaso, a uma marca de aspirador de pó. Hoovering é a técnica de manipulação pela qual, para tentar impedir a fuga do (a) sobrevivente, o (a) abusador (a) lançará mão de todos os recursos malignos disponíveis. Como, por exemplo, fazer-se de vítima, simular depressão e/ou simular arrependimento “milagroso”. Manipuladores (as) não entram no jogo tóxico para perder. São realmente profissionais no campo da mentira e do engano.
            Após o contato zero, faz-se necessário que o (a) sobrevivente se perdoe por não ter impedido a invalidação, proposta pelo (a) manipulador (a). Além disso, é imprescindível que, à medida do possível, busque a restauração da autoestima e da autoconfiança. Tais pilares possibilitarão a criação de limites pessoais saudáveis. A terapia, sem sombra de dúvida, ajuda, e muito, o (a) sobrevivente na caminhada pela recuperação mental e, consequentemente, física. Por fim, lembro aos sobreviventes que tão certo, quanto o dia e a noite, são os dias melhores que virão.      


(Imagem retirada da Internet)



quarta-feira, 26 de junho de 2019

Não entre no jogo tóxico



            A dinâmica do relacionamento tóxico existe para fortalecer o (a) agressor (a) e para escravizar a vítima deste tipo de relacionamento. Tal interação funciona como um jogo maligno de manipulação e poder. Não raro, os seres manipuladores são portadores de distúrbios mentais. Entretanto, cabe ressaltar que, às vezes, não há transtorno mental, há apenas um indivíduo egoísta e mau caráter, disposto a destruir o (a) parceiro (a) com o objetivo de satisfazer os próprios desejos. Hoje conversaremos sobre as principais táticas de manipulação, usadas pelos seres manipuladores.
            O Gaslighting (luz de gás), por exemplo, é uma tática sutil e violenta de manipulação. Por meio dessa tática, os (as) manipuladores (as) distorcem a percepção de realidade do (a) parceiro (a). Em razão desse jogo sujo, a vítima, não raro, passa a questionar a própria sanidade. Os mentirosos compulsivos, normalmente, aplicam o Gaslighting para se esquivarem das próprias responsabilidades. Muito cuidado, se, com frequência, tu costumas escutar do (a) teu (tua) parceiro (a), por exemplo: “Eu nunca disse isso”, “Não me lembro disso”, “Não quis dizer isso” ou “Traio, mas a culpa é tua”. Como podemos ver, a vítima de uma relação tóxica, por meio do Gaslighting, assume a culpa por todos os erros, cometidos pelo (a) abusador (a). Por conta dessa manipulação monstruosa, não raro, as vítimas permanecem presas nos relacionamentos destrutivos.
            Triangulação é outra tática usada para alimentar o jogo tóxico dentro de uma relação amorosa. O (a) manipulador (a) triangula, quando cria uma rede de contatos, paralelos ao relacionamento que tem. Após a formação dessa rede, o (a) manipulador (a) tenta provocar ciúmes e destruir a autoestima do (a) parceiro (a). Além disso, usam a triangulação para verificar o quanto a vítima da relação tóxica está ciente do cenário ao redor. Caso a vítima se revolte, durante o processo de triangulação, o (a) agressor (a) aplica, imediatamente, o tratamento de silêncio. Esse tratamento consiste em romper a comunicação com o objetivo de desorientar ainda mais a parte já fragilizada da relação tóxica. Após infernizar a vida do (a) parceiro (a), não raro, o (a) manipulador (a) sorteia alguém da rede de contatos para “celebrar o amor”, enquanto a vítima da relação tóxica se desintegra pouco a pouco.
             Se perceberes, portanto, sinais de manipulação e desrespeito no teu relacionamento amoroso, simplesmente, abandona o jogo tóxico, imposto pelo (a) manipulador (a). Se tu, por exemplo, não és sociopata, narcisista, psicopata ou mau caráter, fracassarás 100% das vezes que tentar enfrentar os seres manipuladores. Eles são profissionais do jogo tóxico. Assim sendo, protege teu coração e não te submete a nenhum jogo tóxico.



domingo, 10 de março de 2019

Não seja um monstro!



          Recentemente, estreou, nos cinemas do país, o filme A caminho de casa. Tal longa-metragem, por meio da história da cadelinha Bella, ressalta o quanto um animal de estimação pode ser fiel, protetor, brincalhão e companheiro. Diante da reflexão, proposta pelo filme, questionei-me: porque, mesmo diante de tantas qualidades, alguns indivíduos insistem em praticar monstruosidades contra os animais?
          Segundo o Artigo 32, da Lei N° 9.605 de 1998 – Lei Federal de Crimes Ambientais – configura-se crime: praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos. Tal legislação também prevê detenção e multa aos que optarem por descumprir a referida normativa. Entretanto, mesmo diante da referida medida de proteção aos animais, determinados indivíduos driblam a legislação e continuam praticando monstruosidades contra os animais. Quando maltrata e/ou abandona um animal, o indivíduo cruel e desleal evidencia que não é digno de receber afeto e gratidão. Diante de um caso de violência contra um animal, doméstico ou não, temos o dever de registrar uma ocorrência policial. Quando não registramos uma ocorrência, tornamo-nos cúmplices dos atos de crueldade, praticados contra os animais. Vale lembrar que as denúncias podem ser feitas de forma anônima.
          Além dos maus-tratos e do abandono, há outro tipo de crueldade ainda mais perversa: o ato monstruoso de envenenar um animal. Alguns criminosos envenenam os animais, porque, de forma doentia, desejam descontar a frustração, de uma existência desestruturada, na vida de um animal indefeso. Há também indivíduos cruéis que envenenam animais, simplesmente, porque possuem uma personalidade diabólica e, consequentemente, sentem prazer em maltratar os animais. Independente da motivação criminosa, faz-se necessário que tais indivíduos sejam subtraídos do convívio em sociedade. De forma oportuna, cabe ressaltar que diante da suspeita de envenenamento de um animal, precisamos agir rapidamente. Em função disso, é extremamente importante que tenhamos sempre por perto o contato do nosso veterinário de confiança.
          Para conter, portanto, o ímpeto criminoso daqueles que maltratam e praticam crueldades contra os animais, faz-se necessária a fiscalização constante da aplicação da lei de proteção aos animais. Além disso, é imprescindível que os cidadãos denunciem todo e qualquer ato de crueldade praticado contra os animais, sejam eles domésticos ou domesticados, sejam eles nativos ou exóticos, por exemplo. Tais atitudes são primordiais para que os animais recebam maior proteção e deixem de sofrer nas mãos de indivíduos criminosos, desumanos, desleais e covardes.  

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quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

A Restauração do Equilíbrio




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          Os percalços do cotidiano, não raro, fazem com que o ser humano se afaste de um estado de equilíbrio emocional. Em razão desse afastamento e do desejo intenso de solucionar tais contratempos de maneira mais breve possível, o indivíduo acaba não percebendo que pode, por meio das próprias habilidades emocionais, minimizar os efeitos de boa parte dos agentes estressores diários. Ao agir de forma desequilibrada, inevitavelmente, direciona-se a um estado de descontrole emocional. Nesse estado de desequilíbrio, a circunstância estressora, frequentemente, sequestra a capacidade do indivíduo de compreender e de lidar com determinada situação adversa.
          O funcionamento anormal das emoções, diante de fatores estressores – internos e/ou externos – é um claro sinal de que o indivíduo, possivelmente, trata as próprias emoções de forma negligente. Tal negligência torna ainda mais difícil o exercício de lidar com as circunstâncias adversas. Normalmente, os indivíduos conseguem reconhecer os agentes estressores externos, como, por exemplo, um ambiente de trabalho desagradável. A dificuldade maior reside em identificar os fatores estressores internos. Não raro, muitas pessoas, diante da dificuldade de trabalhar com as próprias emoções, procuram pelo auxílio de profissionais da área da saúde. Batimentos acelerados, sudorese excessiva, tensão muscular e sensação constante de alerta, quando sentidos de forma crônica, podem representar sinais de que o indivíduo não está conseguindo lidar com as próprias emoções e com as tensões do cotidiano.
      É praticamente impossível eliminar, do cotidiano, todos os fatores estressores. Entretanto, é perfeitamente possível desenvolver as próprias habilidades emocionais para melhor poder lidar com os empecilhos do cotidiano. O primeiro passo, para um efetivo enfrentamento das circunstâncias estressoras, reside na identificação das causas do esgotamento emocional. Sejam ela externas, relacionadas a um ambiente estressante, sejam ela internas, relacionadas às crenças inadequadas, por exemplo. A partir desse reconhecimento, o indivíduo passa a ter a oportunidade de traçar estratégias para o enfrentamento de situações geradoras de tensão.
          O sentimento de esgotamento emocional, portanto, reduz-se à medida que o indivíduo passa a praticar o autoconhecimento, simultaneamente, ao autocontrole. A partir de uma postura ativa e confiante, diante de uma circunstância estressora, o ser humano, dia após dia, passa a perceber que possui a habilidade de não se deixar incapacitar pelos fatores estressores. Sejam eles externos, sejam eles internos. Consequentemente, descobre que não precisa viver eternamente como um escravo das circunstâncias estressoras.



(Imagem retirada da internet)