quinta-feira, 26 de maio de 2016

O Ataque é a pior defesa

"Nas grandes cidades do pequeno dia a dia / O medo nos leva a tudo / Sobretudo a fantasia / Então erguemos muros que nos dão a garantia / De que morreremos cheios de uma vida tão vazia..."

(Muros e Grades - Engenheiros do Hawaii)



***

          O homem se tornou um especialista na identificação do mal no dia a dia, mas perdeu a habilidade de reconhecer a bondade humana nos pequenos eventos do cotidiano. Em função disso, constrói muros e assume uma postura defensiva para rebater toda e qualquer possível ameaça.
          O comportamento defensivo do homem é compreensivo, visto que, não raro, recebe bombardeios na forma de informações negativas, como notícias a respeito do avanço da corrupção no cenário nacional ou comunicados que informam a ocorrência de mais algumas decapitações no Oriente Médio. Diante disso, na mente humana, nascem preocupações e desconfianças excessivas. Em decorrência dessas, o ser humano, frequentemente, ataca: não por maldade, mas por medo de uma “possível ameaça”.
          Devido a essa animalização do homem, lembrei-me de algumas palavras que escutei no filme de Charlie Chaplin O Grande Ditador: “Mais do que maquinários, precisamos de humanidade; mais do que inteligência, precisamos de bondade e compreensão. Sem essas qualidades, a vida será violenta e estaremos todos perdidos”. Se tais palavras tivessem sido compreendidas, certamente, o homem abandonaria a postura defensiva que evidencia. Isso porque ele reaprenderia a confiar no outro e a identificar atos de bondade no cotidiano. Dessa forma, não interpretaria toda e qualquer situação como uma circunstância perigosa.
           O homem abandonará, portanto, o posicionamento defensivo quando perceber a importância das relações interpessoais. Além disso, faz-se necessário que o ser humano entenda que a bondade não pode ser uma exceção no meio social. Para alcançar tal evolução, é imprescindível que o indivíduo retire a própria armadura e procure entender o outro. Isso porque os homens, em geral, desejam a propagação da bondade, mas, frequentemente, desconhecem tal fato, visto que não conseguem enxergar além do próprio muro.



O Grande Ditador - Charlie Chaplin



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Diário de Santa Maria, RS - 2015








domingo, 22 de maio de 2016

Estamos sendo negligentes - Maio / 2016

          Imagino que a sociedade tenha ficado assustada com a confirmação da primeira morte em função do vírus H1N1 em Santa Maria. Esse susto deve ter sido ainda maior, porque o primeiro óbito foi de uma aluna do curso de medicina da UFSM. Se houve negligência ou não por parte do HUSM, a Polícia Federal, segundo o Portal G1, averiguará o caso. Hoje, entretanto, não escrevo para dissertar a respeito dessa suspeita de negligência, mas, sim, para tecer comentário a respeito dos casos confirmados de negligência.
          No que tange ao nosso sistema de saúde, percebo que existem pelo menos três grupos agindo frequentemente de forma negligente: um grupo representado pela população, outro pelos profissionais da área da saúde e o terceiro grupo representado pelos agentes do Estado. A população, em geral, negligencia, quando deixa de cobrar os direitos que tem, quando acha que o SUS é gratuito e que, por isso, não pode exigir muito. O Sistema Único de Saúde é sustentado pelo suor dos próprios cidadãos. Não se trata de uma bondade do Estado. Tal fato justifica o porquê das consultadas agendadas pelo SUS não poderem ser cobradas. Sendo assim, o cidadão tem o direito de cobrar um atendimento de qualidade.
       Os profissionais da área da saúde agem de forma negligente, quando se afastam da população, quando mantêm certo distanciamento dos cidadãos. Isso porque, ao não dialogar como deveriam com a população, deixam de informar ao cidadão a respeito das mazelas que assombram o nosso sistema de saúde. Tais como a falta de recursos para proporcionar melhorias nos hospitais públicos, falta de verba para a compra de medicamentos/vacinas e a falta de recurso para empreender melhorias, nas universidades públicas, principalmente, nos cursos da área da saúde, por exemplo.
          Além disso, o Estado, por sua vez, negligencia quando insiste em investir nos setores que, provisoriamente, não se evidenciam como uma prioridade máxima para o país: os Jogos Olímpicos, por exemplo. De nada adianta carregar uma medalha de ouro no peito, se teremos vários óbitos, por negligência, nas costas. Usei a primeira pessoa do plural, porque a negligência não nasce de um ponto isolado, mas sim de uma teia de irresponsabilidades. Nessa teia está presente a população, os profissionais da área da saúde e o Estado.
          Portanto, essa cadeia de negligências diárias, só terá fim, quando percebermos que a área da saúde funciona como um “quebra-cabeça”. Sendo assim, precisamos enxergar que, cada um de nós precisa cumprir a sua respectiva função, para que possamos afastar do nosso “quebra-cabeça” a “peça da negligência”.       


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Diário de Santa Maria, RS - Maio de 2016  

Lembra-te da Baleia?

"Ela era como uma pessoa da família" (Vidas Secas / Baleia)


        É impossível não se emocionar diante dos últimos momentos de vida da cadelinha Baleia, no livro Vidas Secas. Isso porque, na iminência da morte, ela se evidenciou como uma figura mais humana do que os próprios donos: Fabiano e Sinhá Vitória. Apesar dessa demonstração de humanidade e respeito apontada na obra de Graciliano Ramos, alguns seres humanos não compreendem o ensinamento deixado pelo autor, visto que seguem cada vez mais irresponsáveis e cruéis no trato com os animais.
        Sinceramente, não consigo entender como determinados indivíduos conseguem abandonar os próprios animais de estimação como se fossem descartáveis. Tal atitude é repugnante, já que as pessoas conquistam a amizade e o carinho dos animais para, posteriormente, abandoná-los, por exemplo, em terrenos baldios. Diante dessa desumanização, relembro o fato de que o abandono de animais é crime, conforme prevê o artigo 164 do Código Penal Brasileiro.
          Além do abandono, os maus-tratos aos animais também se configuram como uma modalidade criminosa. Em razão disso, a denúncia é legitimada pelo artigo 32 da Lei Federal 9.605, de 1998 (Lei de Crimes Ambientais). Infelizmente, para constatar a ocorrência de maus-tratos, basta caminharmos pelas ruas da nossa cidade. Não são raros, por exemplo, os cavalos em situações precárias puxando carroças. Uma possível alternativa seria a implantação de algo similar ao projeto Cavalo de Lata, criado pelo engenheiro de Santa Cruz do Sul Jason Duani Vargas. O protótipo dele é um carro elétrico, com manutenção econômica e de engenharia simples, que pode ser uma solução aos problemas de maus-tratos aos animais.
           Faz-se necessário. Portanto, a (re) humanização de uma parcela considerável da população. Isso porque, ao agir de forma mais humanitária, tal fração conseguirá enxergar o espírito de fraternidade existente em cada animal. Em decorrência disso, o re- ferido grupo se tornará mais responsável e menos cruel que, normalmente, evidencia-se. Além disso, se o ser humano não está pronto para fazer pelos animais algo semelhante ao que a Baleia fez pelos próprios donos, em Vidas Secas, certamente, ele pre- cisará aprender – e muito – com a cadelinha de Fabiano e Sinhá Vitória.



Vidas Secas - Graciliano Ramos



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Diário de Santa Maria, RS - 2015


sábado, 21 de maio de 2016

Obrigado, Santa Maria!

"Santa maria me guarde estes montes
Que em suas fontes há som de oração
Santa maria da boca do monte
Pra ti meu canto, acalanto e canção..."          

          Ainda que toda e qualquer palavra, diante da missão de descrever a cidade de Santa Maria, evidencie-se como um simples vocábulo, resolvi tentar cumprir essa difícil tarefa. Isso porque, mesmo não sendo natural da Boca do Monte, senti a necessidade de expor o que penso quando ouço o nome da nossa cidade.
          Há quem tenha olhos apenas para os empecilhos enfrentados por Santa Maria. Entretanto, esqueço esses indivíduos e ressalto aquelas pessoas que lutam por dias melhores e que conseguem enxergar, no coração do Rio Grande do Sul, uma cidade acolhedora e cheia de oportunidades. Faço tal realce visto que, para avistar problemas, não é preciso esforço. Em contrapartida, para conseguir enxergar a preciosidade de Santa Maria, além de bons olhos, faz-se necessário também que o indivíduo um grande espírito para lutar por tempos prósperos lado a lado com a Região Central.
         Aos que têm bons olhos, Santa Maria se evidencia como uma cidade hospitaleira e repleta de oportunidades. Tal fato ocorre porque, além de espaços – cada vez mais seguros – reservados ao entretenimento, nossa cidade universitária também proporciona aos cidadãos a possibilidade de construção de uma carreira profissional. Isso se torna possível visto que, entre instituições federais e particulares de ensino, constrói-se uma infinidade de caminhos a serem percorridos por aqueles que desejam ascender profissionalmente.
          Em vista disso, avisto, na cidade de Santa Maria, uma localidade próspera e hospitaleira. Além disso, percebo que ela proporciona muitas oportunidades aos cidadãos e, em troca, pede muito pouco. Ela solicita, simplesmente, que o santa-mariense (natural ou de coração) seja feliz na carreira escolhida e que nunca se esqueça de que, ainda que parta, por um motivo ou outro, será sempre muito bem-vindo no coração do Rio Grande do Sul.



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Diário de Santa Maria, RS - Janeiro de 2016

Entre "Bixos" e Bichos (2014)

                    

          "Se todo animal inspira ternura, oque houve, então, com os homens?". Selecionei tais palavras de Guimarães Rosa e tracei um paralelo com os trotes universitários violentos que ocorrem nas universidades brasileiras. No dia 14 de agosto, senti-me perplexo ao ler a notícia de que um calouro universitário da UFSM entrou em coma alcoólico devido ao trote amigável a que foi exposto. Em decorrência desse fato, escrevo, não para tecer alguma análise a respeito dos vários trotes exemplares já ocorridos na nossa cidade, mas , sim, para rechaçar as atrocidades cometidas por alguns psicopatas travestidos de universitários.
          Eu poderia discorrer um comentário – extremamente positivo – do trote universitário proposto pela turma da Veterinária da UFSM, que arrecadou doações para, posteriormente, direcioná-las aos animais de rua. Entretanto, ainda que louve tal atitude do curso de Veterinária, teço uma análise a respeito dos trotes universitários violentos que ocorrem em Santa Maria. Tais ações – cometidas por determinados acadêmicos psicopatas – tornam a recepção da maioria dos calouros um legítimo inferno. Em decorrência disso e do descaso da sociedade em relação ao progresso da violência, no ambiente universitário, uma parcela considerável dos calouros passa a conviver com um contexto violento e, o pior, passa a acreditar que a violência representa algo que encontra abrigo dentro da normalidade.
          Como resolver, então, tais questões referentes aos trotes universitários violentos? A Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, proibiu o Trote Sujo. De acordo com as Normas de Convivência Universitária, o trote sujo é qualquer tipo de “ação de tortura, tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante, constrangimento e situações de discriminação de qualquer natureza”. Por meio desse regulamento, os trotes desumanos foram reduzidos significativamente. Se não quiser seguir tal linha de ação, a UFSM pode seguir, então, os passos da Universidade de Minas Gerais (UFMG). Tal unidade mineira de ensino, neste mês de agosto, expulsou alguns alunos do curso de Direito porque tais psicopatas praticaram trotes abusivos contra calouros. Como vemos, medidas não faltam. Só espero que a UFSM não se valha da seguinte teoria: “Se não ocorreu no meu pátio, não é problema meu”.
          Diante do exposto, peço, encarecidamente, que a UFSM e, principalmente, a sociedade não se calem diante do avanço da violência no âmbito universitário. Não podemos esquecer que o calouro de hoje, futuramente, poderá ser o professor que instruirá os nossos filhos ou o médico que poderá salvar muitas vidas. Lembro ainda ao leitor que quem se cala diante da violência, como a cometida por determinados “rascunhos de universitários”, torna-se cúmplice dela e daqueles que praticam certos atos de inteligência constrangedora. 



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Diário de Santa Maria, RS - 2015


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Quanto vale a vida? (Publicado no dia do 7 a 1)

          Tal questionamento, que serve de título para este artigo, deixou-me intrigado no final de semana posterior ao desabamento do viaduto Batalha dos Guararapes, em Belo Horizonte. Notei-me atônito, diante da indiferença da maioria dos brasileiros em relação às duas vidas que se perderam nesse “acidente”. Além disso, fiquei perplexo ao perceber que tais cidadãos, que demonstram indiferença por ocasião do referido desabamento, foram os mesmo que promoveram uma intensa mobilização nas redes sociais em apoio ao “herói nacional”: Neymar Jr.
          Na quinta-feira, 3 de julho de 2014, quando desabou o viaduto Batalha dos Guararapes, inicialmente, cobrou explicações das autoridades mineiras. No entanto, passadas algumas horas, os cidadãos, em geral, contentaram-se com o jogo político: o famoso “empurra-empurra”. Como era véspera do jogo do Brasil contra a Colômbia, os brasileiros, em sua maioria, aceitaram as desculpas vazias que classificaram o fato ocorrido como um “acidente normal”, enquanto isso, duas famílias choravam devido à forma brutal como os seus entes queridos foram subtraídos do convívio cotidiano.
          Sem nenhum pudor, na sexta-feira, dia 4 de julho, os cidadãos, em geral, evidenciavam certa indiferença em relação aos dois óbitos ocorridos, em virtude do desabamento do viaduto, no dia anterior. Entretanto, quando o “herói nacional” – Neymar Jr. – sofreu uma falta dura e uma lesão na coluna, toda aquela indiferença em relação às vitimas do desabamento transformou-se em revolta. Lamentavelmente, a “tragédia esportiva” se sobrepôs à tragédia real. Em decorrência disso, os brasileiros foram para as redes sociais, como o Facebook, por exemplo, para, ironicamente, cobrar uma punição ao “crime” cometido pelo jogador colombiano. Diante disso, perguntei-me: Neymar é mais brasileiro do que os dois trabalhadores que foram esmagados por toneladas de concreto?

          Diante do exposto, percebe-se o ufanismo doentio da maioria dos brasileiros. Nota-se isso visto que, como vemos, eles, em geral, classificam como algo grave uma lesão na coluna, mas agem com indiferença diante da queda de um viaduto que provocou a morte de dois trabalhadores. Claro que uma lesão na coluna é algo, realmente, gravíssimo, entretanto, a morte de dois cidadãos, em decorrência da negligência e da irresponsabilidades de determinadas construtoras, também configura-se como um fato gravíssimo. Em razão disso, novamente, questiono-me: quanto vale a vida?




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Diário de Santa Maria, RS - 2014

Insegurança Pública (2014/2015)

         

           Segundo o Artigo 6° da Constituição Federal Brasileira, segurança é um direito social de todos os cidadãos. Entretanto, em decorrência do descumprimento desse parágrafo constitucional, observamos, diariamente, a exposição de Santa Maria às consequências do avanço da criminalidade. Além disso, percebemos também que não estamos contando com boa vontade política por parte – de uma fração considerável – dos nossos gestores públicos.
          Infelizmente, na cidade universitária, devido à crise da segurança pública, os papéis estão invertidos. Escrevo isso, porque notei que os cidadãos estão aprisionados dentro de casa, enquanto determinados grupos criminosos propagam, dos bairros periféricos ao Centro, o medo e a insegurança. Nessa última semana, do mês de julho, após os dois sequestros relâmpagos ocorridos em santa Maria e noticiados pelo Diário, tornou-se nítido o abandono das questões referentes à segurança pública por parte dos nossos gestores. Além disso, ficou evidente também a apatia do poder público, visto que, em nenhum momento, ele emitiu nota evidenciando algum posicionamento diante desse cenário de terror que assola a sociedade.
           Diante disso, perguntei-me: onde vivem os senhores que prometeram segurança em troca do meu voto? Confesso que, devido à ausência da segurança pública, evito, ao máximo, andar pelas ruas após as 22h. Recordo-me de um fato ocorrido na distante segunda-feira da semana passada: notei-me radiante ao perceber as centenas de vagas em cursos técnicos que foram disponibilizados aos cidadãos de Santa Maria, gratuitamente, pelo Sisutec. No entanto, após a alegria inicial, percebi-me perplexo em relação à situação dos cidadãos que terão de optar pela especialização no período noturno. Isso porque eles optarão pelo aperfeiçoamento técnico, expondo-se à insegurança cotidiana. Assim, constato que a criminalidade sequestra também a nossa oportunidade de progresso profissional. Espero também que nossos gestores públicos abandonem o estado de sonolência no qual se encontram.

         Percebemos, portanto, claramente a necessidade de mudança nesse nosso quadro de insegurança social. Como diz a campanha do grupo RBS: Santa Maria Somos Nós. Em decorrência disso, faz-se necessário que lutemos por uma cidade universitária mais segura. Lembro ao leitor que não estaremos pedindo nenhum favor para as nossas autoridades, mas, sim, exigindo o cumprimento do que está previsto em nossa Constituição. Sinceramente, acredito, e muito, que podemos viver em uma Santa Maria mais próspera e, principalmente, mais segura do que esta que, momentaneamente, evidencia-se aos cidadãos.  





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Diário de Santa Maria, RS - 2014/2015


Pequenas Reflexões ( Diário de Santa Maria/ZH 2014/2015 )

"Aonde leva essa loucura? Qual é a lógica do sistema? Onde estavam as armas químicas? O que diziam os poemas?"

(Armas Químicas e Poemas - Engenheiros do Hawaii)


REDES SOCIAIS - PARODIANDO





NOSSA COPA COTIDIANA




AO VESTIBULANDO...




NOSSA COPA COTIDIANA




SEMANA DA ARTE CONTEMPORÂNEA




GUERREIRO NA ESTANTE




OPINIÃO: TER OU NÃO TER?


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Diário de Santa Maria, RS - 2014/2015



Zero Hora, RS - 2014/2015