sexta-feira, 20 de maio de 2016

Quanto vale a vida? (Publicado no dia do 7 a 1)

          Tal questionamento, que serve de título para este artigo, deixou-me intrigado no final de semana posterior ao desabamento do viaduto Batalha dos Guararapes, em Belo Horizonte. Notei-me atônito, diante da indiferença da maioria dos brasileiros em relação às duas vidas que se perderam nesse “acidente”. Além disso, fiquei perplexo ao perceber que tais cidadãos, que demonstram indiferença por ocasião do referido desabamento, foram os mesmo que promoveram uma intensa mobilização nas redes sociais em apoio ao “herói nacional”: Neymar Jr.
          Na quinta-feira, 3 de julho de 2014, quando desabou o viaduto Batalha dos Guararapes, inicialmente, cobrou explicações das autoridades mineiras. No entanto, passadas algumas horas, os cidadãos, em geral, contentaram-se com o jogo político: o famoso “empurra-empurra”. Como era véspera do jogo do Brasil contra a Colômbia, os brasileiros, em sua maioria, aceitaram as desculpas vazias que classificaram o fato ocorrido como um “acidente normal”, enquanto isso, duas famílias choravam devido à forma brutal como os seus entes queridos foram subtraídos do convívio cotidiano.
          Sem nenhum pudor, na sexta-feira, dia 4 de julho, os cidadãos, em geral, evidenciavam certa indiferença em relação aos dois óbitos ocorridos, em virtude do desabamento do viaduto, no dia anterior. Entretanto, quando o “herói nacional” – Neymar Jr. – sofreu uma falta dura e uma lesão na coluna, toda aquela indiferença em relação às vitimas do desabamento transformou-se em revolta. Lamentavelmente, a “tragédia esportiva” se sobrepôs à tragédia real. Em decorrência disso, os brasileiros foram para as redes sociais, como o Facebook, por exemplo, para, ironicamente, cobrar uma punição ao “crime” cometido pelo jogador colombiano. Diante disso, perguntei-me: Neymar é mais brasileiro do que os dois trabalhadores que foram esmagados por toneladas de concreto?

          Diante do exposto, percebe-se o ufanismo doentio da maioria dos brasileiros. Nota-se isso visto que, como vemos, eles, em geral, classificam como algo grave uma lesão na coluna, mas agem com indiferença diante da queda de um viaduto que provocou a morte de dois trabalhadores. Claro que uma lesão na coluna é algo, realmente, gravíssimo, entretanto, a morte de dois cidadãos, em decorrência da negligência e da irresponsabilidades de determinadas construtoras, também configura-se como um fato gravíssimo. Em razão disso, novamente, questiono-me: quanto vale a vida?




Publicado: 


Diário de Santa Maria, RS - 2014

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