Tal questionamento, que serve de
título para este artigo, deixou-me intrigado no final de semana posterior ao
desabamento do viaduto Batalha dos Guararapes, em Belo Horizonte. Notei-me
atônito, diante da indiferença da maioria dos brasileiros em relação às duas
vidas que se perderam nesse “acidente”. Além disso, fiquei perplexo ao perceber
que tais cidadãos, que demonstram indiferença por ocasião do referido
desabamento, foram os mesmo que promoveram uma intensa mobilização nas redes
sociais em apoio ao “herói nacional”: Neymar Jr.
Na quinta-feira, 3 de julho de 2014,
quando desabou o viaduto Batalha dos Guararapes, inicialmente, cobrou
explicações das autoridades mineiras. No entanto, passadas algumas horas, os
cidadãos, em geral, contentaram-se com o jogo político: o famoso “empurra-empurra”.
Como era véspera do jogo do Brasil contra a Colômbia, os brasileiros, em sua
maioria, aceitaram as desculpas vazias que classificaram o fato ocorrido como
um “acidente normal”, enquanto isso, duas famílias choravam devido à forma
brutal como os seus entes queridos foram subtraídos do convívio cotidiano.
Sem nenhum pudor, na sexta-feira, dia
4 de julho, os cidadãos, em geral, evidenciavam certa indiferença em relação
aos dois óbitos ocorridos, em virtude do desabamento do viaduto, no dia
anterior. Entretanto, quando o “herói nacional” – Neymar Jr. – sofreu uma falta
dura e uma lesão na coluna, toda aquela indiferença em relação às vitimas do
desabamento transformou-se em revolta. Lamentavelmente, a “tragédia esportiva”
se sobrepôs à tragédia real. Em decorrência disso, os brasileiros foram para as
redes sociais, como o Facebook, por exemplo, para, ironicamente, cobrar uma
punição ao “crime” cometido pelo jogador colombiano. Diante disso,
perguntei-me: Neymar é mais brasileiro do que os dois trabalhadores que foram
esmagados por toneladas de concreto?
Diante do exposto, percebe-se o
ufanismo doentio da maioria dos brasileiros. Nota-se isso visto que, como
vemos, eles, em geral, classificam como algo grave uma lesão na coluna, mas
agem com indiferença diante da queda de um viaduto que provocou a morte de dois
trabalhadores. Claro que uma lesão na coluna é algo, realmente, gravíssimo,
entretanto, a morte de dois cidadãos, em decorrência da negligência e da
irresponsabilidades de determinadas construtoras, também configura-se como um
fato gravíssimo. Em razão disso, novamente, questiono-me: quanto vale a vida?
Publicado:
Diário de Santa Maria, RS - 2014
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