sábado, 21 de maio de 2016

Entre "Bixos" e Bichos (2014)

                    

          "Se todo animal inspira ternura, oque houve, então, com os homens?". Selecionei tais palavras de Guimarães Rosa e tracei um paralelo com os trotes universitários violentos que ocorrem nas universidades brasileiras. No dia 14 de agosto, senti-me perplexo ao ler a notícia de que um calouro universitário da UFSM entrou em coma alcoólico devido ao trote amigável a que foi exposto. Em decorrência desse fato, escrevo, não para tecer alguma análise a respeito dos vários trotes exemplares já ocorridos na nossa cidade, mas , sim, para rechaçar as atrocidades cometidas por alguns psicopatas travestidos de universitários.
          Eu poderia discorrer um comentário – extremamente positivo – do trote universitário proposto pela turma da Veterinária da UFSM, que arrecadou doações para, posteriormente, direcioná-las aos animais de rua. Entretanto, ainda que louve tal atitude do curso de Veterinária, teço uma análise a respeito dos trotes universitários violentos que ocorrem em Santa Maria. Tais ações – cometidas por determinados acadêmicos psicopatas – tornam a recepção da maioria dos calouros um legítimo inferno. Em decorrência disso e do descaso da sociedade em relação ao progresso da violência, no ambiente universitário, uma parcela considerável dos calouros passa a conviver com um contexto violento e, o pior, passa a acreditar que a violência representa algo que encontra abrigo dentro da normalidade.
          Como resolver, então, tais questões referentes aos trotes universitários violentos? A Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, proibiu o Trote Sujo. De acordo com as Normas de Convivência Universitária, o trote sujo é qualquer tipo de “ação de tortura, tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante, constrangimento e situações de discriminação de qualquer natureza”. Por meio desse regulamento, os trotes desumanos foram reduzidos significativamente. Se não quiser seguir tal linha de ação, a UFSM pode seguir, então, os passos da Universidade de Minas Gerais (UFMG). Tal unidade mineira de ensino, neste mês de agosto, expulsou alguns alunos do curso de Direito porque tais psicopatas praticaram trotes abusivos contra calouros. Como vemos, medidas não faltam. Só espero que a UFSM não se valha da seguinte teoria: “Se não ocorreu no meu pátio, não é problema meu”.
          Diante do exposto, peço, encarecidamente, que a UFSM e, principalmente, a sociedade não se calem diante do avanço da violência no âmbito universitário. Não podemos esquecer que o calouro de hoje, futuramente, poderá ser o professor que instruirá os nossos filhos ou o médico que poderá salvar muitas vidas. Lembro ainda ao leitor que quem se cala diante da violência, como a cometida por determinados “rascunhos de universitários”, torna-se cúmplice dela e daqueles que praticam certos atos de inteligência constrangedora. 



Publicado:

Diário de Santa Maria, RS - 2015


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