domingo, 22 de maio de 2016

Lembra-te da Baleia?

"Ela era como uma pessoa da família" (Vidas Secas / Baleia)


        É impossível não se emocionar diante dos últimos momentos de vida da cadelinha Baleia, no livro Vidas Secas. Isso porque, na iminência da morte, ela se evidenciou como uma figura mais humana do que os próprios donos: Fabiano e Sinhá Vitória. Apesar dessa demonstração de humanidade e respeito apontada na obra de Graciliano Ramos, alguns seres humanos não compreendem o ensinamento deixado pelo autor, visto que seguem cada vez mais irresponsáveis e cruéis no trato com os animais.
        Sinceramente, não consigo entender como determinados indivíduos conseguem abandonar os próprios animais de estimação como se fossem descartáveis. Tal atitude é repugnante, já que as pessoas conquistam a amizade e o carinho dos animais para, posteriormente, abandoná-los, por exemplo, em terrenos baldios. Diante dessa desumanização, relembro o fato de que o abandono de animais é crime, conforme prevê o artigo 164 do Código Penal Brasileiro.
          Além do abandono, os maus-tratos aos animais também se configuram como uma modalidade criminosa. Em razão disso, a denúncia é legitimada pelo artigo 32 da Lei Federal 9.605, de 1998 (Lei de Crimes Ambientais). Infelizmente, para constatar a ocorrência de maus-tratos, basta caminharmos pelas ruas da nossa cidade. Não são raros, por exemplo, os cavalos em situações precárias puxando carroças. Uma possível alternativa seria a implantação de algo similar ao projeto Cavalo de Lata, criado pelo engenheiro de Santa Cruz do Sul Jason Duani Vargas. O protótipo dele é um carro elétrico, com manutenção econômica e de engenharia simples, que pode ser uma solução aos problemas de maus-tratos aos animais.
           Faz-se necessário. Portanto, a (re) humanização de uma parcela considerável da população. Isso porque, ao agir de forma mais humanitária, tal fração conseguirá enxergar o espírito de fraternidade existente em cada animal. Em decorrência disso, o re- ferido grupo se tornará mais responsável e menos cruel que, normalmente, evidencia-se. Além disso, se o ser humano não está pronto para fazer pelos animais algo semelhante ao que a Baleia fez pelos próprios donos, em Vidas Secas, certamente, ele pre- cisará aprender – e muito – com a cadelinha de Fabiano e Sinhá Vitória.



Vidas Secas - Graciliano Ramos



Publicado:

Diário de Santa Maria, RS - 2015


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