segunda-feira, 29 de julho de 2019

Relações tóxicas: o caminho da recuperação

"Vai chover, vai secar, serão águas passadas..."
(Engenheiros do Hawaii)

          Dedico o presente artigo a todos que, de alguma forma, sofreram nas mãos de um (a) parceiro (a) tóxico (a). Tais pessoas – empáticas e valorosas – são dignas de menção, porque, não raro, enfrentam batalhas internas e externas, percorrendo um caminho nada fácil para dentro de si mesmas. Empreendem tal caminhada, buscando não somente os bons valores invalidados pelo (a) parceiro (a) destrutivo (a), mas também buscando o reencontro e a reconciliação com seu próprio eu interior.
            A vítima, quando decide abandonar o (a) abusador (a), torna-se um (a) sobrevivente de um relacionamento doentio. Segundo Sam Veknin, terapeuta e autor do livro Autoamor maligno: narcisismo revisitado, a mais sábia atitude a ser tomada, após o término de um relacionamento abusivo, reside no estabelecimento do contato zero com o (a) manipulador (a). Isso porque o contato zero interrompe, quase que imediatamente, o avanço das manipulações e do abuso, impostos, anteriormente, pela criatura manipuladora. Ressalto que o contato zero do (a) sobrevivente não tem relação com o tratamento de silêncio, imposto pelo (a) abusador (a). Contato zero – ou contato mínimo com o (a) abusador (a), quando há filho (a) (s) – representa um ato emergencial de defesa, enquanto o tratamento de silêncio representa um recurso para promover a violência psicológica.
         À medida que se afasta do manipulador (a), o (a) sobrevivente passa a perceber e a compreender os efeitos tóxicos do gaslighting (dissonância cognitiva), da triangulação (comparação/traição) e do tratamento de silêncio, por exemplo. Na fase de recuperação, é preciso ter muito cuidado com a manobra de manipulação – muito usada pelos (as) narcisistas e pelos (as) sociopatas – chamada hoovering. Esse termo faz referência, não por acaso, a uma marca de aspirador de pó. Hoovering é a técnica de manipulação pela qual, para tentar impedir a fuga do (a) sobrevivente, o (a) abusador (a) lançará mão de todos os recursos malignos disponíveis. Como, por exemplo, fazer-se de vítima, simular depressão e/ou simular arrependimento “milagroso”. Manipuladores (as) não entram no jogo tóxico para perder. São realmente profissionais no campo da mentira e do engano.
            Após o contato zero, faz-se necessário que o (a) sobrevivente se perdoe por não ter impedido a invalidação, proposta pelo (a) manipulador (a). Além disso, é imprescindível que, à medida do possível, busque a restauração da autoestima e da autoconfiança. Tais pilares possibilitarão a criação de limites pessoais saudáveis. A terapia, sem sombra de dúvida, ajuda, e muito, o (a) sobrevivente na caminhada pela recuperação mental e, consequentemente, física. Por fim, lembro aos sobreviventes que tão certo, quanto o dia e a noite, são os dias melhores que virão.      


(Imagem retirada da Internet)