"Nas grandes cidades do pequeno dia a dia / O medo nos leva a tudo / Sobretudo a fantasia / Então erguemos muros que nos dão a garantia / De que morreremos cheios de uma vida tão vazia..."
(Muros e Grades - Engenheiros do Hawaii)
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O homem se tornou um especialista na
identificação do mal no dia a dia, mas perdeu a habilidade de reconhecer a
bondade humana nos pequenos eventos do cotidiano. Em função disso, constrói
muros e assume uma postura defensiva para rebater toda e qualquer possível
ameaça.
O comportamento defensivo do homem é
compreensivo, visto que, não raro, recebe bombardeios na forma de informações
negativas, como notícias a respeito do avanço da corrupção no cenário nacional
ou comunicados que informam a ocorrência de mais algumas decapitações no
Oriente Médio. Diante disso, na mente humana, nascem preocupações e
desconfianças excessivas. Em decorrência dessas, o ser humano, frequentemente,
ataca: não por maldade, mas por medo de uma “possível ameaça”.
Devido a essa animalização do homem,
lembrei-me de algumas palavras que escutei no filme de Charlie Chaplin O Grande
Ditador: “Mais do que maquinários, precisamos de humanidade; mais do que
inteligência, precisamos de bondade e compreensão. Sem essas qualidades, a vida
será violenta e estaremos todos perdidos”. Se tais palavras tivessem sido
compreendidas, certamente, o homem abandonaria a postura defensiva que
evidencia. Isso porque ele reaprenderia a confiar no outro e a identificar atos
de bondade no cotidiano. Dessa forma, não interpretaria toda e qualquer situação
como uma circunstância perigosa.
O homem abandonará, portanto, o posicionamento
defensivo quando perceber a importância das relações interpessoais. Além disso,
faz-se necessário que o ser humano entenda que a bondade não pode ser uma
exceção no meio social. Para alcançar tal evolução, é imprescindível que o
indivíduo retire a própria armadura e procure entender o outro. Isso porque os
homens, em geral, desejam a propagação da bondade, mas, frequentemente,
desconhecem tal fato, visto que não conseguem enxergar além do próprio muro.
O Grande Ditador - Charlie Chaplin
Publicado:
Diário de Santa Maria, RS - 2015