"Se todo animal inspira ternura, oque houve, então, com os homens?". Selecionei tais palavras de Guimarães Rosa e tracei um paralelo com os trotes universitários violentos que ocorrem nas universidades brasileiras. No dia 14 de agosto, senti-me perplexo ao ler a notícia de que um calouro universitário da UFSM entrou em coma alcoólico devido ao trote amigável a que foi exposto. Em decorrência desse fato, escrevo, não para tecer alguma análise a respeito dos vários trotes exemplares já ocorridos na nossa cidade, mas , sim, para rechaçar as atrocidades cometidas por alguns psicopatas travestidos de universitários.
Eu
poderia discorrer um comentário – extremamente positivo – do trote
universitário proposto pela turma da Veterinária da UFSM, que arrecadou doações
para, posteriormente, direcioná-las aos animais de rua. Entretanto, ainda que
louve tal atitude do curso de Veterinária, teço uma análise a respeito dos
trotes universitários violentos que ocorrem em Santa Maria. Tais ações –
cometidas por determinados acadêmicos psicopatas – tornam a recepção da maioria
dos calouros um legítimo inferno. Em decorrência disso e do descaso da
sociedade em relação ao progresso da violência, no ambiente universitário, uma
parcela considerável dos calouros passa a conviver com um contexto violento e,
o pior, passa a acreditar que a violência representa algo que encontra abrigo
dentro da normalidade.
Como
resolver, então, tais questões referentes aos trotes universitários violentos? A
Universidade de Brasília (UnB), por exemplo, proibiu o Trote Sujo. De acordo
com as Normas de Convivência Universitária, o trote sujo é qualquer tipo de “ação
de tortura, tratamento ou castigo cruel, desumano ou degradante,
constrangimento e situações de discriminação de qualquer natureza”. Por meio
desse regulamento, os trotes desumanos foram reduzidos significativamente. Se
não quiser seguir tal linha de ação, a UFSM pode seguir, então, os passos da
Universidade de Minas Gerais (UFMG). Tal unidade mineira de ensino, neste mês
de agosto, expulsou alguns alunos do curso de Direito porque tais psicopatas
praticaram trotes abusivos contra calouros. Como vemos, medidas não faltam. Só
espero que a UFSM não se valha da seguinte teoria: “Se não ocorreu no meu
pátio, não é problema meu”.
Diante do exposto, peço,
encarecidamente, que a UFSM e, principalmente, a sociedade não se calem diante
do avanço da violência no âmbito universitário. Não podemos esquecer que o
calouro de hoje, futuramente, poderá ser o professor que instruirá os nossos
filhos ou o médico que poderá salvar muitas vidas. Lembro ainda ao leitor que
quem se cala diante da violência, como a cometida por determinados “rascunhos
de universitários”, torna-se cúmplice dela e daqueles que praticam certos atos
de inteligência constrangedora.
Publicado:
Diário de Santa Maria, RS - 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário