terça-feira, 10 de janeiro de 2017

A Hora e Vez de Augusto Matraga

“Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente que, às vezes, custa muito a passar, mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria. Cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua.”


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         Na obra A Hora e Vez de Augusto Matraga, João Guimarães Rosa apresentou ao mundo Augusto Matraga (Nhô Augusto). Tal personagem era conhecido por todos como um homem brigão, problemático e bêbado. Por conta deste estilo de vida, Nhô Augusto, não raro, estava envolvido em desavenças com os coronéis da região. Em virtude disso, certa vez, apanhou tanto que quase morreu. Após essa surra, Augusto Matraga deu início a uma verdadeira história de superação. Isso porque ele soube reorientar o próprio destino e dar um novo sentido a própria vida.
        Na história de Guimarães Rosa, Nhô Augusto aprendeu - da pior maneira possível - a empreender força somente nos embates que forem necessários. Consequentemente, abandonou as desavenças infrutíferas, reconheceu as próprias fraquezas e começou a reorientar a própria existência. Tal atitude, de Augusto Matraga, chamou-me a atenção, visto que, para reconhecer os próprios erros, faz-se necessário que o indivíduo opte por, realmente, tornar-se um ser humano melhor do que aquele que vinha sendo até então. De forma primordial, Guimarães Rosa deixou evidente que, independente das circunstâncias, qualquer indivíduo pode alterar o próprio destino. Nhô Augusto é a prova disso, porque, ainda que tenha perdido a esposa, as filhas e as terras que tinha, ele resolveu ter a humanidade de pedir perdão aos que ele tinha ofendido e de perdoar aos inimigos. Dessa forma, Matraga deixou de ser escravo de um cotidiano infeliz para se tornar senhor da própria vida.
        À medida que se afastava das tentações do cotidiano, Matraga se aproximava, surpreendentemente, da tão sonhada vida próspera. Acredito que uma das motivações, para que Nhô Augusto tenha optado por um estilo de vida sensato, resida nas palavras de um padre que cruzou pelo caminho dele. Chego a esse entendimento, porque, sempre que se sentia enfraquecido, Matraga repetia as palavras proferidas pelo indivíduo religioso: "Reze e trabalhe, fazendo de conta que esta vida é um dia de capina com sol quente que, às vezes, custa muito a passar mas sempre passa. E você ainda pode ter muito pedaço bom de alegria. cada um tem a sua hora e a sua vez: você há de ter a sua".
          Dessa maneira, heroicamente, Nhô Augusto abandonou os paradigmas comportamentais do passado para se tornar um indivíduo melhor: um ser humano bem diferente daquele que foi apresentado, inicialmente, na obra de Guimarães Rosa. Isso porque ele sabia que, se rezasse e trabalhasse firme, a hora e a vez dele chegariam.



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